Retrato de Jaime Batalha Reis

, 1892

Columbano Bordalo Pinheiro

Óleo sobre tela

64 × 54 cm
assinado e datado
Inv. 1324
Historial
Doação de Beatriz Batalha Reis, filha do retratado, em 1947.

Exposições
Lisboa, 1894; Porto, 1895, 9; Lisboa, 1896, 36; Lisboa, 1904, 65; Lisboa, 1911, 5; Paris, 1913; Lisboa, 1948; Lisboa, 1957, 40; Lisboa, 1980, 28, p.b.; Lisboa 2007.

Bibliografia
O Occidente, 1911, 133; ALDEMIRA, 1941, 36; MACEDO, 1952, XLVIII, p.b.; PAMPLONA, 1954, vol. I; FRANÇA, 1967, vol. II, 265; COLUMBANO, 1980, 31, p.b.; FRANÇA, 1981, 75; ELIAS, 2002, 158; Columbano Bordalo Pinheiro, 1874 – 1900, 2007, 157.
Intelectual notável, Batalha Reis inicia cedo a sua participação em acontecimentos culturais, para a qual foi fundamental o contacto com Eça de Queiroz, como depois, c. 1868, o será a amizade com Antero de Quental, neste caso na iniciação de Batalha Reis em questões filosóficas. Já nesta altura a sua casa era lugar de encontro da juventude intelectual e boémia, germe da futura Geração de 70, na qual Batalha Reis teve um activo papel desde o início, como organizador das Conferências do Casino. Logo, completamente inserido no meio em que Columbano se movimenta. Entre os projectos que empreendeu cabe mencionar a efémera Revista Ocidente (1875), assim como a sua participação em jornais e revistas através de crónicas sobre ópera, literatura e arte.
Batalha Reis desempenha um papel decisivo na trajectória artística de Columbano, quando, em 1884, tendo como motivo a primeira apresentação do Concerto de amadores, a sua voz se elevara contra a generalidade da crítica, que atacara ferozmente o artista. Batalha Reis defendeu a obra como “poderosa e original” e revalorizou o papel que desempenhara na exposição em Paris, por comparação com as habituais representações portuguesas no estrangeiro. A partir daqui acompanhou sempre a carreira do pintor, como crítico (1894) ou valendo-se dos contactos internacionais que a sua brilhante carreira como diplomata lhe propiciaram. Após fracassar na tentativa de arrastar Columbano para Paris, Batalha Reis proporcionou as exposições que o pintor realizou em Londres, em 1901 e 1902, a visita de Sargent – que Columbano conhecera na sua primeira viagem a Paris – ao seu atelier de Lisboa e iniciou os contactos para a realização de uma individual na capital francesa, que se prolongaram até resultarem em 1913 na esperada exposição da Galerie Georges Petit. Durante estas tentativas as relações estabelecidas com Dieulafoy, autor do livro Espagne et Portugal, culminariam num texto sobre Columbano, ilustrado com o retrato de Batalha Reis, incluído neste livro.
Este Retrato de Jaime Batalha Reis é o segundo que Columbano lhe fez – o primeiro data de 1887 – e terá sido, provavelmente, realizado no regresso do diplomata da sua intervenção como perito na Conferência Anti-Esclavagista de Berlim (1889 – 1891). O modelo iconográfico corresponde ao esquema definido para todos os retratos que durante a década de noventa Columbano realiza: um busto em leve diagonal, um jogo de sombras na face direita do retratado, por efeito de idêntica iluminação proveniente do um ponto situado por cima do canto superior esquerdo. O tratamento cromático de negros e castanhos é também coincidente, como as carnações e o enquadramento luminoso que o branco da camisa lhes proporciona. A sua abordagem procura também no retratado a revelação psicológica e capta a serenidade de um carácter equilibrado e calmo.
Motivados pelas exposições individuais de 1894 e 1895, Raul Brandão, Ribeiro Artur, Mariano Pina, destacaram este retrato entre os muitos que compunham a galeria do pintor, como mais tarde o fará Brito Monteiro em 1896, alguns deles estabelecendo um parentesco com autores como Velázquez, Ribera ou Hals ou Manet, a raiz das proximidades compositivas, cromáticas e de iluminação referidas.

Maria Jesús Ávila