Retrato do pai

, 1878

Columbano Bordalo Pinheiro

Grafite sobre papel

16,4 × 12,2 cm
assinado e datado
Inv. 1180
Historial
Legado de Emília Bordalo Pinheiro, viúva do artista, em 1945.

Exposições
Lisboa, 1980, 86, p.b.; Lisboa, 2007.

Bibliografia
Columbano, 1980, 79, p.b.; Columbano Bordalo Pinheiro, 1874 – 1900, 2007, 207.
O vasto conjunto de desenhos de Columbano Bordalo Pinheiro que hoje o MNAC – Museu do Chiado conserva, resultado de aquisições, doações e legados, entre os quais se destaca o legado de Emília Bordalo Pinheiro (1945), permite afirmar que, para o artista, a prática do desenho não constitui prática autónoma. Pelo contrário, ela reafirma Columbano como pintor, como um artista que recorreu à prática do desenho quase exclusivamente como via de ensaio para as suas pinturas. O desenho será campo para estudos de composição, de orquestração de luzes, de caracterização de pormenores anatómicos e de atitudes individuais de figuras que integram composições maiores. Houve excepções e delas são exemplo alguns retratos, apontamentos feitos no teatro, na rua ou em paisagens ao ar livre.
Este carácter preparatório torna difícil encontrar particularidades de estilo que favoreçam uma abordagem cronológica. Se entre os estudos de retratos se registam variações estilísticas, muitas vezes acompanhando as transformações pictóricas, será na mudança de um género para outro que estas diferenças se tornam evidentes. Daí a opção de abordar por esta óptica os desenhos cronologicamente afins deste estudo, pertencentes às colecções do MNAC – Museu do Chiado.
A colecção de desenhos de Columbano começa em 1874 com um conjunto de trabalhos escolares que, realizados sob o magistério de Simões de Almeida e dentro do espírito de cópia que rege o ensino académico da época, nenhuma informação singular trazem da formação de um estilo próprio. Temos de esperar até 1878 para encontrar retratos e cenas de interior que revelem características próprias do fazer do artista.
Foi provavelmente dentro do retrato que Columbano realizou o maior número de desenhos não destinados a servir de estudo preparatório para trabalhos pictóricos, ou pelo menos não concretizados como tais. Alguns deles respondiam a encomendas de jornais e revistas, outros a pedidos de amigos, como aquele que lhe fez Silva Pinto, em 1887, para o retrato de Cesário Verde. Vários nomes desfilam pelos desenhos: João de Deus, Antero de Quental (executado um ano depois da célebre pintura), D. João V, e outros, não identificados: um juiz, um marechal (possivelmente Saldanha) e vários retratos femininos.
De 1878 data o primeiro retrato, que tem por protagonista Manuel Maria, pai do artista. Caracterizado por uma execução convencional na pose e no realismo, própria da fase de formação em que se encontra, indicia o uso da fotografia como base do retrato. A ele seguem-se várias personagens não identificadas, entre as quais Perfil de homem (realizado em 1880). Este desenho corresponde à factura característica destes anos, em que o traço curto e leve define com precisão a fisionomia, se desordena no cabelo e é substituído nas roupas por um trabalho de amplos sombreados, organizados em manchas de diferente intensidade. A ausência de sombras ou o tratamento espacial do fundo, sobre o qual o retratado se recorta com nitidez, corresponde às preocupações próprias desta fase.

Maria Jesús Ávila