Retrato de D. José Pessanha

, 1885

Columbano Bordalo Pinheiro

Óleo sobre madeira

35 × 27 cm
assinado e datado
Inv. 898
Historial
Adquirido pelo Estado em 1938.

Exposições
Lisboa, 1885, 29; Lisboa, 1904, 53; Lisboa, 1957, 20; Lisboa, 1980, 19, p.b.; Paris, 1987, 192 p.b.; Lisboa, 1988, 192, p.b.; mnac: Colecção de Pintura Portuguesa (1842 – 1979), Queluz, 1989, 37; Lisboa, 1994, 60, cor; Lisboa, 2002; O século XIX nas colecções do Museu do Chiado – MNAC, 2005; Século XIX na colecção do Museu do Chiado – MNAC, Lisboa, 2005; Lisboa, 2007; Istambul, 2009, 20.

Bibliografia

PESSANHA, 1897; MACEDO, 1945, 9, p.b.; MACEDO, 1952, XXV, p.b.; PAMPLONA, 1954, vol. I; Revista e Boletim da ANBA(...), 1957, pp. 12 – 13, p.b.; FRANÇA, 1967, vol. II, 263, p.b.; FRANÇA, 1979, 28; Columbano, 1980, 24, p.b.; FRANÇA, 1981, 74, p.b.; FRANÇA, 1987, 37; FRANÇA e COSTA, 1988, 221, p.b.; Le XIXe siècle au Portugal (...), 1988, 42, p.b.; SILVA (et al.), 1993, 106, cor; LAPA, 1994, 114, cor; O rosto da máscara (...), 1994, 317, cor; SILVA, 1995, 343, cor; FRANÇA, 1998, 368; ELIAS, 2002, 125 ss.; LAPA, 2003, 1; Columbano Bordalo Pinheiro, 1874 – 1900, 2007, 117; Lisboa, memórias de outra cidade, 2009, 80, cor.
O Retrato de D. José Pessanha define um retrato que é o da recepção da obra, uma vez que o retratado é um erudito crítico, que escreveu um importante artigo sobre o artista, também ele representado na pintura através do seu reflexo num espelho. A profusão de pontos de interesse individualizados tornam o retrato apenas num entre outros aspectos representados e não tem paralelo na tradição nacional da época. Para tal contribui a neutralidade cromática do fundo, que permite autonomizar os objectos de forma predominantemente elipsoidal, dispostos em volta do retratado. É de realçar que mesmo no retratado tanto a mão que segura a bengala ou o próprio rosto se autonomizam relativamente ao resto do corpo. Um espelho na parede rompe o plano de fundo para revelar um auto-retrato de Columbano enquanto pinta e simultaneamente se pinta. Inscreve-se assim no espaço da representação o seu aquém – o espaço do que representa – como uma dobra que inscreve a consciência da própria representação. O espaço que desta forma se revela é então um excedente de natureza conceptual e programática que surge como um desdobramento do natural, quer como elemento de composição, quer como produtor da própria composição. Outro aspecto curioso é a inversão de situações criada pelo quadro; D. José Pessanha, crítico de arte, enquanto representado é observado e analisado pelo pintor, desta vez do lado de lá da cena enquanto pintura. Inversão da relação crítica/pintura pressupondo um entendimento moderno da pintura como crítica da própria pintura.

Pedro Lapa