Sem título

, 1957

Jorge Vieira

Carvão sobre papel

33,3 × 22,5 cm
assinado e datado
Inv. 2442
Historial
Doação de Noémia Cruz em 2000.

Exposições
Lisboa, 2001, s.p., cor; Castelo Branco, 2002, 81, cor.

Bibliografia
Novas Aquisições e Doações 2000/2001, 4, cor; SANTOS, Da Escultura à Colagem (…), 2002, 81, cor.
Numa folha branca de fundo liso surgem dois elementos desenhados a carvão em pequenos traços nervosos que se agrupam na construção de formas abstractas, de geometrismo irregular, quase etéreas pela sua finura. Sob um suporte neutro bidimensional erguem-se estas figuras antropomórficas, como árvores de estrutura humana, que se elevam em acentuada verticalidade. A figura central ocupa, em plano aproximado, o eixo da folha, e ergue-se sobre uma tripeça de finas garras que elegantemente afastam do chão o corpo sustentado por linhas que se interligam formando uma rede. Deste tronco vazio, que se afunila à medida que sobe, saem pequenos espinhos com elementos acutilantes como se fossem folhas angulosas, braços como troncos e, destes, dedos como pequenos ramos. Por fim, periclitantes linhas verticais crescem soltas para se agruparem num elemento de topo que conclui de forma aprumada o abstraccionismo do desenho.
O segundo elemento deste desenho surge à direita, em plano recuado, e apresenta igual verticalidade, sendo o referente antropomórfico mais diluído, em reforço de uma linguagem mais abstraccionista ou mais orgânica. O corpo da figura desperta do ponto de junção de quatro finos pés que o sustentam e ergue-se como um tronco construído pelo emaranhado de traços vigorosos. Tronco que se abre para dele sair um fruto espinhoso, a partir do qual cresce um pequeno caule que termina numa espécie de flor, em forma de estrela, criada por linhas que se cruzam num ponto central. Podemos dizer que estes elementos, num estilo figurativo-abstraccionista, arquitectados em linhas irregulares, com sugestiva volumetria de orientação geométrica, de acentuada desmaterialização formal, assumem a qualidade de estudos ao remeterem para a tridimensionalidade da escultura.

Adelaide Ginga