Após a realização da emblemática escultura Monumento ao prisioneiro político desconhecido, Jorge Vieira executa esta obra Sem título dando continuidade a um trabalho escultórico de conquista da verticalidade, arquitectado em módulos numa analogia totémica. O estímulo surrealista de orientação abstractizante, que marcou a criação deste período, evidencia-se na subtil relação poética de cariz sexual evocada na obra, através de elementos fusiformes que se sobrepõem e interpenetram, numa sugestiva relação de simbolismo feminino e masculino, este último coroado por um filamento dourado em forma de chifres. De carácter orgânico, acentuado pelo tom quente da terracota, esta escultura de reduzida dimensão apresenta um frágil equilíbrio na articulação dos elementos trabalhados num jogo de bases e orifícios que sustentam pontes e vazios.

Adelaide Ginga