Pintura (interior)

, 1948

José de Almada Negreiros

Guache e óleo sobre papel

43 × 57
assinado e datado
Inv. 2364
Historial
Adquirido por José-Augusto França em 1954 na Galeria de Março. Adquirido pelo Estado a José-Augusto França, em 1998.

Exposições

Lisboa, 1952, s.n.º; Lisboa, 1976, 11; Lisboa, 1979; Lisboa, 1982, 75, p.b.; Madrid, 1983, 17, p.b.; Paris, 1989; Lisboa, 1997, 10, cor; Aveiro, 2001, 12, cor; Lisboa, 2008; Lisboa, 2009; Lisboa, 2010.

Bibliografia
Almada Negreiros, 1952, s.n.º; FRANÇA, 1963, 10, cor; Colóquio, 1970, capa, cor; Dicionário da Pintura Universal (…), 1973, 27, cor; FRANÇA, 1974, 328, p.b.; Os Pioneiros da Arte Moderna Portuguesa (…), 1976, 11; AZEVEDO, 1982, 75, p.b.; FRANÇA, 1982, 117, p.b.; Almada Negreiros, 1983, 17, p.b.; FRANÇA, 1983, capa, cor; Colecção José-Augusto França, 1997, 10, cor; FRANÇA, 2001, 103, cor; Almada Negreiros, 2001, cor; VIEIRA, 2001, 139, cor.




O lirismo de cenas femininas que pontuara as diferentes fases da obra de Almada Negreiros reaparece nesta cena de interior que regista a atmosfera íntima e de cumplicidade do mundo feminino, mas agora reelaborado a partir das novas preocupações plásticas que ocuparam o artista na segunda metade dos anos 40. A figuração, que não tarda deixará de ser alvo central dos seus interesses, aparece aqui filtrada por uma insistente geometria que tudo submete a um singular jogo entre planificação e volumetria, conduzidas pela articulação da mancha cromática plana e da linha. Ainda que as referências picassianas continuem presentes, a revisitação de certos aspectos do Cubismo empreendida nesta obra é completamente singular. Uma linha grossa – que traz memórias dos vitrais – desenha com um traço curvo e continuado as formas sensuais das mulheres em contraste com o rigor rectilíneo que define os elementos espaciais e os pormenores da sala. A continuidade da linha que, sem interrupção, conforma as anatomias e o encontro, abrupto e anguloso, dos traços rectos do enquadramento, gera reservas preenchidas por cores planas e diluídas e por tracejados paralelos, de diferente orientação, que substituem sombreados anteriores na criação de intensidades cromáticas e lumínicas e conferem um acentuado dinamismo à composição. Estes aspectos, que situam esta composição no âmbito das experiências desenvolvidas em torno dos frescos das gares marítimas, o melhor desta fase do artista, fazem-na ocupar um papel de destaque entre a sua produção desta época.

Maria Jesús Ávila