entrada: Condições Gerais

Arte Portuguesa 1850-1975

Coleção MNAC

2015-06-28
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Coleçao MNAC

Romantismo e Pré Naturalismo
A pintura dos costumes populares do francês Auguste Roquemont, em Portugal desde 1828, e os escritos de Almeida Garrett, com destaque para as Viagens na minha terra, 1846, propiciaram o Romantismo na pintura portuguesa.
Tomás da Anunciação e António José Patrício procuraram, em observação direta “no natural”, a verdade pitoresca das paisagens, das gentes e das vidas do povo.
Por outro lado afirmava-se o sentimento trágico da Natureza, patente em Cristino da Silva e Francisco Metrass, este também com pinturas que revisitavam a História de Portugal, então publicitada pela obra do escritor e historiador Alexandre Herculano.
Fontes Pereira de Melo trouxe à governação do país, entre 1851 e 1887, um impulso de regeneração económica e material, com ênfase nas modernas formas de transporte, comunicações e obras públicas, que propiciou a afirmação da classe média e de uma nova aristocracia.
Os retratos do Visconde de Menezes, do mesmo modo que os de Ferreira Chaves e Miguel Ângelo Lupi, estes de agudo realismo, ou as cenas de género burguês e paisagens de Alfredo Keil, requintadas pinturas de pequeno formato, adequadas aos modernos interiores urbanos, refletem essa atmosfera social. (P.H.)

Naturalismo
Os dois primeiros bolseiros do Estado português em Paris, os pintores Silva Porto e Marques de Oliveira, regressaram a Portugal em 1879, trazendo a novidade da captação da luz e dos valores atmosféricos da paisagem, em pintura ao ar livre, tal como era praticada em França pelos pintores da Escola de Barbizon.
Silva Porto, pintor de paisagem e costumes do campo, foi designado o “divino mestre”, figura central do Grupo do Leão, nome com origem no da cervejaria Leão de Ouro, em Lisboa, onde se reuniam artistas e literatos que partilhavam vontades de modernidade, entendida nos princípios do Naturalismo.
Entre eles destacaram-se Columbano Bordalo Pinheiro, o retratista austero da elite intelectual, António Ramalho, o retratista alegre da elite social, José Malhoa, o pintor do povo português, e João Vaz, o pintor de marinhas.
Neste contexto estético destacaram-se na cidade do Porto os pintores Artur Loureiro, Marques de Oliveira e Henrique Pousão, pintor de máxima modernidade precocemente desaparecido, destino semelhante ao de Soares dos Reis, o mais importante escultor do século XIX em Portugal. (P.H.)
Naturalismo tardio e Simbolismo
O Naturalismo atualizou-se na obra de Veloso Salgado, num gosto cosmopolita de final do século XIX, a verdade da representação ao serviço de uma pompa grandiloquente, do mesmo modo como Carlos Reis e Sousa Lopes exploraram, nas primeiras décadas do século XX, os efeitos visuais da luz e da cor, a pintura tornando-se mais importante do que a imagem do real, pesquisa que José Malhoa também desenvolveu com brilho.
Oposta aos valores do Naturalismo, fixado na realidade concreta e na verdade da representação, o Simbolismo procura valores de intimidade e solidão, temas aflorados por Aurélia de Sousa, e fixa momentos e atmosferas fugidias como as de António Carneiro, o individuo que interroga o significado profundo da imagem visual e, através dela, de si próprio e do mundo. (P.H.)

MODERNISMO
Ruturas
A década de 1910, a primeira da República em Portugal, foi marcada por uma vontade de rutura com os cânones artísticos do ensino académico e do Naturalismo, predominantes no gosto nacional.
A Exposição dos Humoristas Portugueses, Lisboa, 1912, é o primeiro momento de rutura através do Desenho, aí se revelando vários artistas modernos, entre os quais se destacou Cristiano Cruz.
Através das permanências em Paris dos pintores Guilherme Santa-Rita e Amadeo de Souza Cardoso chegaram a Portugal as estéticas das vanguardas europeias – Cubismo, Futurismo e Dádá – a que se juntou a influência do Orfismo de Sónia e Robert Delaunay, residentes em Portugal de 1915 a 1916, em especial sobre o pintor Eduardo Viana. (P.H.)

MODERNISMO
Regresso à ordem
Nas décadas de 1920 e 1930, muitos dos artistas modernos revelados em 1912 aderem a um regresso à ordem, através da figuração íntegra do corpo e do espaço com referência à geometria das formas, cultivada na pintura de Cézanne e patente na obras de Eduardo Viana, Dordio Gomes e Abel Manta.
Outros autores como Almada Negreiros, Jorge Barradas, Francis Smith e Carlos Botelho, registam o pitoresco das gentes e das paisagens portuguesas, certas com a afirmação nacionalista do período.
A pintura expressionista de Mário Eloy é um parêntesis neste modernismo tranquilo, violenta no desenho, na cor e na densidade psicológica que atinge a alucinação e a loucura.
Sem ruturas, a escultura moderna regressa às referências clássicas através das obras de Francisco Franco, Diogo de Macedo e Canto da Maia, funcionalizada na afirmação pública do regime político autoritário em Portugal, o Estado Novo (1926-1974). (P.H.)

Neorealismo e Surrealismo
No contexto da II Guerra Mundial, da Guerra Civil de Espanha e do regime autoritário de Salazar, surgem novos momentos de rutura em articulação com os movimentos internacionais.
Na década de 1940, o agravamento das condições socioculturais e o crescimento da oposição política têm correspondência nas artes plásticas. Valoriza-se a representação do trabalho, das classes pobres e dos oprimidos, numa linguagem figurativa que tem expoente no Gadanheiro, pintura de Júlio Pomar.
O desejo de liberdade social ganha também expressão através do Surrealismo. António Pedro, signatário do manifesto Dimensionista, Paris, 1935, tinha aberto o caminho nesta década, ao introduzir conceitos de relação recíproca entre poesia e artes visuais, com a desconstrução do real e a subversão dos cânones instituídos.
Esta relação propicia experimentalismos que geram ruturas estéticas com importância pioneira para as novas gerações: o imaginário onírico em António Dacosta, Cândido Costa Pinto e Vespeira; a exploração do acaso e do automatismo em Fernando Azevedo e Mário Cesariny; e o espaço ambíguo, entre figurativo e abstrato, de Jorge Oliveira. (A.G.)

Abstração
Na década de 1950, Fernando Lanhas, Nadir Afonso e Rodrigo (este numa fase inicial) afirmam a rutura com a representação figurativa, através da abstração geométrica, assente em relações matemáticas que geram princípios de equilíbrio, harmonia e ordem, em composições de formas elementares sobre fundos neutros, com esquemas ritmados e formas de cores lisas ou apenas delineadas. Outro abstracionismo é praticado por Manuel de Assunção, de espaços e atmosferas, e por Joaquim Rodrigo e Carlos Calvet, de signos orgânicos, patentes nas esculturas de Arlindo Rocha e de Jorge Vieira, este com forte referência antropomórfica. (A.G.)

Nova Figuração
Na década de 1960, em reação às abstrações, surge a Nova Figuração que recupera a representação da realidade concreta. A criação de narrativas surge na pintura de Rodrigo, com palavras e signos elementares, na de Paula Rego, com figuras retalhadas e reagrupadas com significados tumultuosos, procedimento comum a Sá Nogueira mas este com referências à cultura popular de massas. Nesta estratégia de figuração, Lourdes Castro representa, através das sombras e contornos de objetos e personagens reais, René Bertholo cria objetos mecânicos como brinquedos, e José Escada relevos com plásticos coloridos recortados. (A.G.)

NEO VANGUARDAS
No transição da década de 1960 para a de 1970, a arte portuguesa rompeu com os modelos modernistas, usando novas linguagens artísticas alinhadas com a arte internacional. Neste contexto de neo-vanguardas destacam-se os artistas cujo trabalho subverteu o conceito tradicional de pintura.
As questões da perceção visual estão presentes na obra de Eduardo Nery que trabalhou sobre o universo cinético e a Op Art, enquanto Jorge Pinheiro pesquisou o abstracionismo, o cinético, a pop e a shaped-canvas (telas de formato recortado) que elide a relação bidimensional da pintura.
O Abstracionismo é revisto na obra de Ângelo de Sousa e Fernando Calhau, em que os próprios meios e referências históricas da pintura são matéria para romper com a tradição.
Por sua vez, o gestualismo e a inscrição do signo como matéria da pintura serão explorados por João Vieira e António Sena. (E.T.)