entrada: Condições Gerais

Face à “Vida Nua”

2020-12-09
2021-05-01
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Copan




João Pina
Copan
março e abril 2020 | March/April 2020
provas em impressão digital a jato de tinta sobre papel de algodão
digital inkjet printing on cotton paper
Agradecimentos | Acnowledgments
James Wellford, Gail Fletcher, Eliza Capai, Pedro Letria, Marco Rocha, Marcelo Hein e a todos os moradores do Copan que me abriram a porta no meio de uma pandemia | and to every resident of the Copan who opened their door to me in the midst of a pandemic.

Em pleno período crítico da pandemia, João Pina viveu em São Paulo, no edifício Copan. O Brasil, tornou-se, desde o início da atual crise pandémica, um dos países mais afetados, não só em número de infetados e mortos como nas consequências económicas e políticas da crise. A posição negacionista e negligente do seu dirigente máximo, o Presidente Jair Bolsonaro, tem tido consequências devastadoras na sociedade brasileira, aumentado o fosso das desigualdades e da tensão social.
O trabalho que João Pina realizou no simbólico edifício Copan, reveste-se assim de múltiplos significados. Por um lado, observa e documenta a vida de alguns dos seus cerca de 5.000 inquilinos, sob confinamento, oriundos de várias classes sociais. Por outro, a vida no Copan tem também um significado histórico e social, já que se trata de um dos mais importantes edifícios de São Paulo, construído por Oscar Niemeyer entre 1952 e 1966, em pleno auge da expansão económica e urbanística da cidade, podendo ser entendido como um símbolo modernista do sonho progressista brasileiro.
O trabalho documental e de proximidade que João Pina ali realizou, revela-nos a cidade que é o Copan dentro da megacidade que é São Paulo. Conhecedor da realidade brasileira nas suas facetas mais violentas, de que o trabalho 46750, sobre a violência no Rio de Janeiro, é exemplo, o seu olhar é desta vez vizinho e cúmplice de um estado de exceção que tocou o quotidiano de milhões de pessoas, em vários continentes.
As imagens que João Pina realizou retratam a vida confinada dos inquilinos do Copan, em gestos, rituais e vivências nas quais todos nos revemos, em qualquer parte do globo. Contudo, o Copan, pela sua simbologia no quadro de uma época de desenvolvimento urbanístico e de construção de novos modelos sociais de vivência, pode servir hoje de panorama sobre a dolorosa e violenta construção de uma sociedade brasileira mais igualitária.
Tem sido evidente que a pandemia veio acelerar e aprofundar as desigualdades sociais latentes, e que as medidas de exceção impostas pelo confinamento têm também velocidades e repercussões diferentes. A questão que João Pina coloca, com este trabalho, é também sobre a natureza social de exceção que a pandemia provocou, e de que forma os exemplos modernistas de urbanismo e pensamento social podem hoje servir de resistência a uma sociedade brasileira, ou outras, em colapso.

Emília Tavares