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Hein Semke

Hein Semke

2005-06-03
2005-10-30
Curadoria: Comissário geral: Paulo Henriques, curadora da exposição no Museu do Chiado - MNAC: María Jesús Ávila

Um complexo percurso vivencial e político, aliado a razões de saúde, determinaram a deslocação de Hein Semke de Hamburgo para Lisboa, em 1932. No meio escultórico português da década de 30, tutelado pelas figuras de Rodin e Despiau e dominado pelo modelo de estatuária definido por Francisco Franco, Hein Semke representará um dos raros casos de individualismo e independência e sua escultura será a via de penetração do expressionismo escultórico alemão, introduzindo uma nota de desassossego na amabilidade plástica portuguesa.  

O retrato e a temática religiosa serão os géneros escolhidos para esta renovação que formalmente se processa através da síntese e da planificação volumétrica, por vezes arcaizante, resultando em propositadas abstracções, de natureza simbólica. O retrato apresenta registos diversificados: o realismo e a frieza que articulam com a tradição do retrato realista romano ( Heinz Kohler ); o expressionismo formal do seu Auto-retrato , mais violento e dramático na série M. Z. ; o interesse por outras culturas ( Alzira ), próprio do modernismo; ou a simplificação formal e compositiva que conduz à abstracção (cabeça de Ilse kohler ). Se todos os retratos adoptam a força plástica das complexas psicologias que os sustentam, os temas religiosos assumem o carácter de compromisso ético ao reactualizar o religioso no social, não num social abstracto, mas reportando-se a situações contemporâneas. Melhor do que em qualquer outro campo, torna-se visível a influência de Ernst Barlach, com a conversão de cada forma e volume em expressão do mundo interior, dos sentimentos contraditórios que se digladiam no mais íntimo do homem. Por esta razão, em tempos próximos e pouco favoráveis, muitas esculturas seriam alvo da destruição.

As obras presentes nesta exposição, um conjunto de retratos datado da década de 30, constituem um exemplo excelente da integração do artista no ambiente artístico modernista português e da partilha dos seus anseios de renovação, como demonstra o Retrato de António Navarro em exposição. Com os seus principais protagonistas partilhou os referidos anseios de renovação plástica e participou nalgumas das principais manifestações de independência e inovação, que os artistas organizaram como alternativa a um ambiente sufocante e conservador ou naquelas em que o modernismo, na sua expressão mais apaziguada, se tornava oficial através das iniciativas promovidas desde o SPN/SNI . Quase todos os retratos agora expostos no Museu do Chiado - MNAC estiveram presentes nestas exposições, que contribuíram para a consolidação do modernismo em Portugal nos anos 30.

A lei para a protecção dos artistas nacionais promulgada em 1941, que proibia encomendas e aquisições a artistas estrangeiros, ao privar Hein Semke de encomendas oficiais, haveria de afastá-lo progressivamente da escultura e encaminhá-lo para a prática da cerâmica, onde irá desempenhar uma função renovadora igualmente relevante.

Curadores

Comissário geral: Paulo Henriques

Curadora da exposição no Museu do Chiado - MNAC: María Jesús Ávila