Encontros Emocionais
A nossa relação com fotografias antigas e álbuns de família é profundamente emocional. Ao folhearmos velhos álbuns fotográficos, vêm à memoria momentos preciosos, mas por vezes também somos confrontados com questões dolorosas, sobretudo quando a história familiar contém episódios difíceis ou silenciados. As fotografias têm o poder de nos inquietar e de despertar em nós uma variedade de emoções contraditórias, persistindo na memória como se exigissem resposta.
Esta exposição reúne trabalhos de Aline Motta, Sofia Yala e Yassmin Forte. Estes projetos têm em comum o facto de partirem de antigas fotografias de família que as artistas encontraram. Estas imagens não só motivaram as suas investigações artísticas, como constituem uma parte substancial do seu trabalho, servindo de veículo para refletir sobre histórias familiares profundamente marcadas pelo legado do colonialismo português no Brasil, em Angola e em Moçambique.
Quando a brasileira Aline Motta soube que o pai desconhecido da sua avó era um jovem adolescente branco, filho do patrão, decidiu investigar a fundo a história da sua família. Num gesto simbólico que evoca as rotas do comércio de escravos, Motta leva as fotografias dos seus familiares de volta às suas origens, em Portugal e na Serra Leoa. A série fotográfica de Sofia Yala documenta o próprio processo criativo da artista, enquanto desvenda a história da sua família de origem angolana. O trabalho de Yassmin Forte retrata a complicada história de amor entre uma mãe moçambicana e um pai que serviu no exército português, marcada pelo legado das guerras coloniais.
Tipicamente, uma história familiar bem documentada e álbuns fotográficos volumosos, que abrangem várias gerações, são sinal de uma posição socioeconómica privilegiada, enquanto famílias mais modestas tendem a ter um registo mais fragmentado. O que une estes três projetos é essa incompletude: o facto de o património visual das suas famílias ser disperso, cheio de lacunas, e frequentemente levantar mais perguntas do que aquelas a que responde. Os arquivos e a investigação ajudam a desvendar alguns mistérios, mas, apesar de todos os esforços, a incerteza permanece.
Elina Heikka





