Adão e Eva

, 1929–39

Ernesto Canto da Maya

Terracota policromada

M: 159 × 54 × 43 cm; H: 167 × 57 × 46 cm
assinado
Inv. 918
Historial
Adquirido pelo Estado ao artista em 1939.

Exposições
Lisboa, 1943, 44; Bruxelas, 1968, 36, p.b.; Paris, 1968, 36, p.b.;
Madrid, 1968, 36, p.b.; Lisboa, 1980; Madrid, 1985; Lisboa, 2005;
Lisboa, 2006; Lisboa, 2009; Lisboa, 2010.

Bibliografia
Exposição Canto da Maya, 1943, 44; PAMPLONA, 1943, 264; Arte, 1951, 13, p.b.; Art portugais: peinture et sculpture (…), 1967, 36, p.b.; Arte portugués: pintura y escultura (…), 1968, 36, p.b.; FRANÇA, 1974, 258, p.b.; TANNOCK, 1978, 165, p.b.; FRANÇA, 1984; HENRIQUES, 1990, 133, cor; «Modernismo: 1912–1945», 1994, 42; SILVA (et al.), 1994, 179, cor; «Canto da Maya et la sculpture française», 1995, 17; SILVA, 1995, 391, cor; ANDRADE, 1997, 67, cor; «Do isolamento: arte portuguesa (…)», 1997, 48, p.b.; SILVA, 1998, 38, cor; FRANÇA, 1999, 70, cor; SILVA, 1999, 117; SANTOS, Da Escultura à Colagem (…), 2002, 18, cor; NUNES, 2005, 376; Ernesto Canto da Maya (…), 2010, 13, p.b.


A utilização da terracota na escultura esteve praticamente esquecida desde Machado de Castro, no século XVIII. Com Canto da Maya este material é reabilitado e explorado na sua pureza, lembrando a estatuária grega do período arcaico.
A policromia, inédita na escultura da época, reforça este aspecto. O modelado dos corpos é uniforme e exibe nos cabelos e nas pregas do panejamento um esquematismo caracteristicamente art déco. Um ondulado sensual percorre os corpos extasiados que, voltados frente a frente, se alheiam do espectador revelando os perfis ou as costas. Este aspecto confere ao espaço interior uma dimensão íntima, quase táctil na configuração da posição das mãos das figuras, e concentra a atenção no elemento de maior pregnância simbólica constituído pelo fruto oferecido e que actualiza o mito do pecado original pressuposto no incontido sensualismo da composição. Esta metaforiza o espaço vazio entre ambas as figuras em forma de chama.
Na intensidade do tratamento deste espaço vazio e sua relação com a escultura, radica um dispositivo profundamente moderno que transcende as sugestões decorativas, bem integradas, todavia mais características de um gosto cosmopolita da época. Dentro do panorama escultórico nacional, arredado do Modernismo, esta peça surge como a mais significativa proposta. Realizada em 1929 para integrar uma fonte do arquitecto Paul Andrieu, figurou no Salon d’Automne de Paris do mesmo ano e foi adquirida pelo Estado francês. Tanto esta versão como outra idêntica, que se encontra no Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada, foram realizadas posteriormente.

Pedro Lapa
 

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