Retrato de Abel Acácio Botelho

, 1889

António Ramalho

Óleo sobre tela

59 × 44cm
assinado e datado
Inv. 1484
Historial
Adquirido a António Boto da Silva, herdeiro do retratado, em 1952.

Exposições
Lisboa, 1891, 118; Paris, 1987, 208, p.b.; Lisboa, 1988, 208, p.b.; Paris, 1988, cor; Queluz,
1989, 22; São Paulo, 1996, cor; Tóquio, 1999, 73, cor; Lisboa, 2002; Caldas da Rainha, 2005, 273, cor; Lisboa, 2006; Lisboa, 2010.

Bibliografia
A. A., 1891, 78; MACEDO, 1954, 11, p.b.; PAMPLONA, 1954, vol. III; FRANÇA, 1967, vol. II, 102, p.b.; Dicionário da Pintura Universal: Pintura Portuguesa, 1973, vol. 3, 330; RIO-CARVALHO, 1986, 64; COSTA, 1987, 74, 12, p.b.; FRANÇA e COSTA, 1988, 239, p.b.; Japonisme, 1988, cor; LAPA, 1994, 41, cor; O Grupo do Leão e o Naturalismo Português, 1996, 69, cor; Esplendores de Portugal: Cinco Séculos de Arte, 1999, 114, cor; Malhoa e Bordalo: Confluências de uma geração, 2005, 161, cor; TAVARES, 2005, 35.


A memória do quadro de Manet representando Zola sobre um fundo de estampas japonesas é inevitável perante este retrato do escritor Abel Botelho, todavia é-o não pela mesma atitude pictórica mas pelo que os separa e implicitamente define os limites do projecto de António Ramalho. Assim, a grande profusão de elementos decorativos orientais em redor do retratado concentra a atenção no rosto do escritor. O realismo com que este é retratado, recorrendo a um modelado e uma pormenorizada descrição, alheios a valores modernos, contrasta com a diluição provocada pela distribuição da cor. A seda do plano de fundo irradia a partir deste como se de uma auréola se tratasse, aspecto de pendor irónico que vem contaminar a visão geral do quadro. Também a pequena figura que se esgueira de um pote de porcelana, misto de boneco e de homúnculo, pronuncia a sugestão de mistério característica da visão oitocentista do oriente. O japonismo foi moda no final do século XIX, como a chinoiserie o havia sido no século XVIII. Contudo se a estampa japonesa teve influência na planificação do espaço da pintura moderna de Manet, o seu entendimento neste contexto reflecte uma sobreposição do pitoresco ao pictórico, característico do naturalismo.
O livro que o escritor segura define uma linha horizontal acima da qual pairam os objectos, feitos signos de um mundo lendário e abaixo da qual a pintura quase aniquila o compromisso de representação para revelar o labirinto de um espaço à conquista da sua superfície e que apenas a esquina de uma mesa vem relativizar.
Abel Botelho, além de diplomata, desenvolveu uma intensa actividade literária, sobretudo durante a década de 90. No ano em que o pintor o retrata levou à cena no Teatro do Grémio uma peça de sua autoria: Jucunda. A sua filiação literária segue a escola realista na continuidade da Geração de 70. Foi ainda um dos fundadores do Grémio Artístico, que se sucedeu ao Grupo do Leão, tendo publicado alguns textos críticos sobre artistas seus amigos em diversos periódicos, nas décadas de 1880 e 1890.

Pedro Lapa