A volta do mercado

, (1886)

António Carvalho da Silva Porto

Óleo sobre tela

114 × 151 cm
assinado
Inv. 815
Historial
Pertencia a Alice Munró dos Anjos, em 1931. Adquirido pelo Estado ao industrial e coleccionador Policarpo dos Anjos, em 1935.

Exposições
Lisboa, 1886, 97; Lisboa, 1888; Lisboa, 1894, 132; Lisboa, 1898, 323; Paris, 1931, 51; Lisboa, 1932; Lisboa, 1941, 22; Lisboa, 1950, 5; Lisboa, 1951; Caldas da Rainha, 1981, 51, p.b.; Macau, 1986; Porto, 1993, 292, cor; São Paulo, 1996, cor; Lisboa, 2005; Lisboa, 2010.

Bibliografia
RAMALHO, 1887, 294; RAMALHO, 1888, 171; ARTHUR, 1903, 223; CHRISTINO, 1923, 34; BRAGANÇA, s.d. (c. 1936), 10; Um século de pintura e escultura em Portugal, 1943, 91; MACEDO, 1950, capa, p.b.; Arte/ Boletim da Sociedade Nacional de Belas-Artes, 1951, 10, p.b.; PAMPLONA, 1954, vol. IV; Lisboa, 1965, e, cor; FRANÇA, 1967, vol. II, 31; Dicionário da Pintura Universal: Pintura Portuguesa, 1973, vol. 3; COUTO, Caldas da Rainha, 1981, 51, p.b.; Lisboa, 1986, 48  cor; Macau, 1986, cor; MARÍN, 1989; COSTA, 1993, 15, p.b.; SILVA, 1993, 356, cor; LAPA, 1994, 31, cor; Lisboa, 1995, 336; São Paulo, 1996, 33.
Várias vezes a crítica, numa atitude anacrónica, pediu a Silva Porto o grande quadro. Uma resposta poderá ter sido A volta do mercado. Exemplo maior da pintura solar do artista exibe a terra e o céu azul separados por uma faixa de animais e homens, numa tentativa de equilíbrio entre a figura e o habitar a paisagem. O azul do céu é gradado do mais profundo ao turquesa; a paisagem de vegetação mediterrânica, onde os tons terrosos predominam, recebe as sombras cruamente pintadas. O vermelho do chapéu de sol, para além de contraponto luminoso sugere uma nota térmica à paisagem. O apontamento espontâneo em busca de uma picturalidade nova dá lugar a um acabamento mais fidedigno ao referente, organizado por um esquema de composição tradicional. No primeiro plano, o cão que se afasta da lenta marcha dos burros vem inscrever o instantâneo da cena.
O tema do quadro consente a memória dos Paysans de Flagey revenant de la foire de Courbet. Tal como neste, representa um momento importante da vida da população rural. Só que em A volta do mercado não estamos perante a representação das várias classes sociais, mas antes face a um olhar sobre o pitoresco e o colorido local. Este aspecto permite situar o naturalismo de Silva Porto dentro de um alheamento da cultura da modernidade internacional, e também cada vez mais arredado das preocupações pictóricas iniciais, deixando no entanto o testemunho de um entendimento da luz como presença que perdurará por gerações.

Pedro Lapa