O marinheiro

, 1913

Constantino Fernandes

Óleo sobre tela, tríptico

146 × 145 cm (painel central) 146 × 84 cm (painéis laterais)
Inv. 173
Historial
Adquirido pelo legado Valmor ao autor em 1913, ano da sua realização.

Exposições
Lisboa, MNAC, 1913, 173; Lisboa, SNBA, 1913, 122; Lisboa, 1921, 1; Luanda; Lourenço Marques, 1948, 52; Lisboa, 1950, 7; Lisboa, 1979, 47, p.b.; Queluz, 1989, 79; Lisboa, 1998, 195, cor; Lisboa, 2002; Ílhavo, 2003.

Bibliografia
ASSUMPÇÃO, 1913, 122, p.b.; O Occidente, 1913, 1239, 145, p.b.; Lisboa, 1921, 11 – 12; Constantino Fernandes, 1925, p.b.; Lisboa, 1935, 160, p.b.; BRAGANÇA, s.d. (c. 1936), 11; Portugal: A arte, os monumentos, a paisagem, os costumes, as curiosidades, s.d. (c. 1936), Fasc. 9, 14, p.b.; Arte/ Boletim da Sociedade Nacional das Belas-Artes, 1951, 12; MACEDO, 1952; PAMPLONA, 1954, vol. I, 1987, vol. II; Um século de pintura e escultura, 1965, 66, p.b.; FRANÇA, 1967, vol. II, 238, p.b.; Dicionário da Pintura Universal: Pintura Portuguesa, 1973, vol. 3; Portuguese 20th century artists: a biographical dictionary, 1978, pl. 125, p.b.; A Criança nas colecções do Museu, 1979, 56 – 57 p.b.; Lisboa, 1987, 261, p.b.; SILVA, 1994, 195 cor; Imagens da Família: Arte Portuguesa, 1994, 31, cor; A Arte e o Mar, 1998, 204, cor; SILVEIRA, 1998, 204, cor; MACEDO, s.d., 469, p.b.
O interesse mais imediato deste tríptico de Constantino Fernandes é a originalidade da sua iconografia, rara no naturalismo português que preferencialmente elegeu as temáticas ruralistas e que, quando aborda a beira-rio, trata as gentes do mar pelos valores antropológicos de culturas anti-urbanas. Pelo contrário, estes Marinheiros são citadinos plenos que pelo vigor realista da sua representação sugerem uma inédita situação cinematográfica, quase o clima estético do neo-realismo italiano de muitos anos depois. Cinematográfica é também a implantação das figuras na tela valorando, como pano de fundo, as linhas abertas dos cordames, dos mastros e das velas e desenvolvendo uma narratividade sincopada sem articulação imediata em termos de discursividade: de facto, se o painel central evoca uma cena de chegadas e partidas afectivamente sugeridas, nos painéis laterais as tarefas desenvolvem-se com autonomia. À esquerda o excelente escorço dos marinheiros que desenrolam a vela, à direita o par que se detém em lazer distraído. Registe-se finalmente o teor prosaico, meramente testemunhal da composição que não contém nenhum paralelo discurso ideológico ou estético, sentimental ou épico, antes uma espécie de secura plástica inexistente na pintura naturalista portuguesa. Situando-se numa filiação estética dos realismos europeus, esta obra pode sugerir referência oitocentista a Ford Madox Brown ou Gustave Courbet embora a sua resolução plástica, prescindindo do claro-escuro e aclarando a paleta sem virtuosismos tímbricos, represente bem o tempo posterior da sua realização.

Raquel Henriques da Silva