Só Deus!

, 1856

Francisco Metrass

Óleo sobre tela

120,3 × 154 cm
Inv. 500
Historial
Pertenceu às colecções do rei D. Fernando II (1816 – 1885) na exposição da Academia de
Belas-Artes, em 1856. Adquirido pelo Estado no Leilão do Conde de Ameal em 1921.

Exposições
Lisboa, 1856; Lisboa, 1898, 301; Lisboa, 1921, 1430, grav.; Lisboa, 1950; Paris, 1987, 83, cor e p.b.; Lisboa, 1988, 83, cor e p.b.; Queluz, 1989, 2; Lisboa, 1998, 243, cor; Porto, 1999, 103, cor; Lisboa, 2005; Lisboa, 2010.

Bibliografia
ARTHUR, 1903, 218; Lisboa, 1921, 1430 Grav; L’Art en Espagne et en Portugal de la fin du XVIIIe siècle a nos jours, 1926, 846; LUCENA, 1943, 48; MACEDO, 1949, 11, p.b.; MACEDO, 1952, 2 – 13, p.b.; BARREIRA, 1953; PAMPLONA, 1954, vol. III; Lisboa, 1961, XLI, p.b.; FRANÇA, 1967, vol. I, 368 – 69, cor; SOARES, 1971, 74; Dicionário da Pintura Universal: Pintura Portuguesa, 1973, vol. 3; PEREIRA, 1986, 159 – 60; COSTA, 1987, 74, 9, p.b.; FRANÇA e COSTA, 1988, 130, p.b.; Paris, 1988, 21, p.b.; MARÍN, 1989, p.b.; FRANÇA, 1993, 320 – 21, p.b.; Imagens da Família: Arte Portuguesa 1801 – 1992, 1994, 19, cor; SILVEIRA, 1994; Lisboa, 1994, 7, cor; MICHEL, 1995, 331; A Arte e o Mar, 1998, 243, cor; As Belas-Artes do Romantismo em Portugal, 1999, 321, cor; 520, p.b.; As Belas-Artes do Romantismo em Portugal, Porto, 1999, 38; FALCÃO, 2003, 77; A Arte nos séculos XIX e XX, 368, p.b.
Esta obra emblemática do romantismo português representa a obsessão pela morte ou uma forma de a ordenar cenograficamente. Pretendendo criar uma situação de sentimentalismo patético, longinquamente inspirado na pintura dramática que havia estudado em Paris, da escola flamenga e de mestres Nazarenos (Overbeck), Metrass tenta introduzir em Portugal este novo gosto, que não teve seguidores, apesar de constituir um êxito no salão trienal da Academia de Belas-Artes (1856), onde a peça foi exposta.
A cena, envolta em teatralidade, organiza-se a partir de uma diagonal formada pela mulher, “recostada” na corrente, definindo uma composição artificiosa que cria uma desadequação entre o imaginado e o transmitido. O espírito melodramático, patente no movimento da torrente, nos ramos retorcidos de velhos troncos, na mão que se firma no madeiro, nas carnações do corpo da mulher e pernas da criança, ou na sua expressão de pavor, envolve a totalidade destes expedientes sentimentalistas de um desespero maternalmente humanizado.
O tema aquático que à morte se liga, talvez algo deva ao Radeau de la Méduse, 1819, de Théodore Géricault, expressão máxima do primeiro romantismo francês. Esta pintura, de um vigor dramático onde a esperança dos poucos sobreviventes da jangada se deposita num navio no horizonte, afasta-se do sentimentalismo anedótico de Metrass, da salvação da mãe e filho que se encontra no domínio do transcendente. Aliando o drama à temática religiosa, o artista parece querer ampliar o sofrimento, e dedicar-lhe uma personagem em primeiro plano. Fica a dúvida se, tal como no Radeau de la Méduse, o acontecimento foi facto jornalístico numa época de explosão do periodismo.

Maria Aires Silveira