Cadavre-exquis

, c. 1947–1948

António Pedro

Lápis sobre papel

22 × 15,8 cm
Inv. 2479
Historial
Doação de José-Augusto França em 2000.

Exposições
Lisboa, 1999, 138, cor; Badajoz, 2001, 236, cor; Lisboa, 2001, 236, cor.; Vila Nova de Famalicão, 2001, 236, cor; Madrid, 2002, 236, cor; Castelo Branco, 2002, 74, cor; Vila Franca de Xira, 2005, 43, cor; Tomar, 2009, s.p.

Bibliografia
António Pedro. Desenhos, 1999, 138, cor; Surrealismo em Portugal (…), 2001, 232, 236, cor; SANTOS, Da Escultura à Colagem (…), 2002, 74, cor; Um Tempo e Um Lugar (…), 2005, 26, 43, cor; Surrealismo Porquê? Nos 60 Anos da Exposição do Grupo Surrealista de Lisboa, 2009, s.p.
De entre os vários jogos desenvolvidos no âmbito do surrealismo, o jogo do Cadavre-exquis foi um dos mais populares e amplamente praticados pelos surrealistas portugueses. O método do Cadavre-exquis na sua vertente gráfica e visual, consistia em criar num qualquer suporte, geralmente papel, um desenho colectivo. O desenho era dobrado em tantas partes quantos os participantes que, sem verem o que o outro desenhou, apenas pegando nalgumas linhas e formas que chegavam ao limite da dobra, tinham de lhes dar continuidade e realizar no espaço que lhe foi atribuído um desenho liberto de preocupação moral, apenas atendendo ao repertório imagético e onírico que se apresentasse em automatismo. O resultado, fruto do acaso na construção deste discurso ou poema visual, afirmava-se como um acto de liberdade que procurava eliminar o controlo exercido pela razão e a aura do domínio autoral. É o caso do Cadavre-exquis criado por António Pedro, Fernando de Azevedo, Marcelino Vespeira e José-Augusto França, membros do Grupo Surrealista de Lisboa constituído em 1947. Elaborado em sentido vertical descendente, o desenho apresenta uma predominância de motivos figurativos de natureza anatómica integrados em contextos abstractos, que ajudam a perceber as questões de autoria. É facilmente identificável a emblemática e quase etérea mão longilínea de António Pedro, o modelar e incompleto corpo feminino de Fernando Azevedo, acompanhado de provocantes formas pontiagudas que lembram chifres, elementos estes, também comummente utilizados por Vespeira que aqui, todavia, se afirma pelos característicos seios voluptuosos, por fim, as formas abstractizantes que evocam alguns motivos já indicados anteriormente, resultado das incursões plásticas de José-Augusto França. Um diálogo visual em que cada uma das partes, ao articular-se com as demais, ganha e confere novo sentido ao todo.

Adelaide Ginga