Cross Sharing (instalação com Turquoise Hexagon Sun e Hi8)

, 2000, 1996-1999

Alexandre Estrela

(Cross Sharing); vídeo, VHS transferido para DVD, cor, som, 8’;
(Turquoise Hexagon Sun), vídeo, DVD, cor, som, 20’ (Turquoise Hexagon Sun);
(Hi8), vídeo, DVD, cor, som, 30’
Inv. 2863, 2865, 2864
Historial
Doacção ao MNAC-MC em 2003.

Exposições
Lisboa, 2001, 16-21, cor; Lisboa, 2003; Lisboa, 2010.

Bibliografia
TAVARES, 2000, 16-21, cor; BARRO (et. al.), 2003, 103-104.
Nesta instalação, os três vídeos apresentados questionam vários aspectos da história do vídeo enquanto modelo comunicacional, tecnológico e artístico. Ao construir ou apropriar situações marginais, quase impercetíveis, desconsideradas pela história do próprio medium, a interrogacção a que as submete implica-as numa utopia capaz de reconfigurar novas possibilidades para o vídeo. Numa projeção frente a frente apresenta-se Cross Sharing que deu nome à instalação, e que relaciona o vídeo com a sua capacidade de apropriacção e reconfiguracção da própria história da imagem, neste caso do cinema em concreto. O artista apropria-se de uma cena do filme de culto de ficção científica Soilent Green (1973) de Richard Fleischer, em que um velho homem no seu quarto de eutanásia pede para ver imagens dum perdido esplendor da natureza na Terra, sendo uma delas a de um rebanho de ovelhas, cena por sua vez apropriada do filme Far From The Mading Crowd (1967) de John Schlesinger. Ao utilizar um dispositivo de apropriacção comum na indústria cinematográfica, Cross Sharing une os dois filmes através desta cena criando uma terceira narrativa, que acrescenta significados a ambos os filmes e apresenta o cinema como um terreno de experimentacção visual aberto e transversal.
Sucede-se a Cross Sharing, o vídeo Turquoise Hexagon Sun, que consiste no registo de um televisor que atingiu os limites da obsolescência e apresenta deformações de imagem. A bolha que se move casualmente ao longo das faixas de cor distorcida sugere um poente interminável, a que a música dos Boards of Canada dá o título. Este poente é também uma reflexão sobre os limites funcionais dos suportes tecnológicos e prolonga a tensão formal de Cross Sharing. Na outra projeção frontal, Hi 8 apresenta a imagem estática de uma máquina de filmar que designa esse modelo específico e que pode ter foneticamente, em inglês, também o sentido de I hate (eu odeio). Um zoom em crescendo acompanhado duma banda sonora que o enfatiza, acaba por revelar num flash final o Hi8 inscrito na máquina. Tirando partido da ambiguidade, este vídeo motiva o próprio trabalho mas também desloca-o para as suas contradições artísticas e técnicas.

Emília Tavares