Mulheres de pescadores

, 1951

Júlio Resende

Óleo sobre tela

80 × 100 cm
assinado e datado
Inv. 1442
Historial
Adquirido pelo Estado ao artista em 1951.

Exposições
Lisboa, 1951, 7; Lisboa, 1952; Coimbra, 1958, 34; Guimarães, 1958, 34; Porto, 1958, 34; Lisboa, 2002; Castelo Branco, 2002, 4 cor; Ílhavo, 2005, s.n.º, cor; Lisboa, 2009.

Bibliografia
Exposição Júlio Resende, 1951, 7; Exposição Itinerante de Algumas Obras (…), 1958, 34; SILVA (et al.), 1994, 210, cor; SILVA, 1995, 399; SANTOS, Figuração e Abstracção (…), 2002, 67, cor; Artes de Pesca. As Pescas na Arte, 2005, s.n.º, cor.
A obra de Júlio Resende surge a partir de meados da década de 40 como um dos eixos que iriam refazer uma modernidade incipiente, por via de um Expressionismo de sentido mais construtivo, prescindindo do psicologismo ou do sensitivismo matérico daquele que a pintura portuguesa havia conhecido na década anterior. Mulheres de pescadores situa-se no termo da fase alentejana, que recobre os últimos anos da década de 40 e os primeiros da de 50. Trata-se de uma pintura densa e matérica de grande opacidade e cores surdas servidas por uma paleta terrosa que recusa sugestões atmosféricas. Os valores construtivos da linha criam uma tensão com a expressividade da cor mais estridente dos chapéus, situação patenteada ao longo desta fase, como o notou logo de início (1945) Júlio Pomar, e que de resto estava presente no seu mestre Othon Friez, ou que em Dordio Gomes havia sido resolvida pelo recurso a uma uniformidade tonal. No entanto em Mulheres de pescadores o aparecimento de algumas fosforescências misturadas com os castanhos nos céus prenuncia já um sentido construtivo da cor, que os seus quadros subsequentes demonstrarão. Tal facto não ilude uma declarada predominância da arquitectura plástica com a morfologia presente no canto inferior direito a repetir-se e a desenvolver-se em obras posteriores. A composição ritmicamente triangulada assume a bidimensionalidade do suporte e gera as próprias figuras que se confundem com os planos do fundo, numa nítida herança pós-cubista. A sua intensidade escultural, frequente em obras deste período, dilui-se aqui numa situação equívoca. Apesar de uma sugestão também presente da pintura de Orozco, ela não se confunde com o Movimento Neo-Realista, pela recusa que estabelece em confrontar o pictórico com o ideológico. A compra desta obra para o MNAC – Museu do Chiado pelo seu director, o escultor Diogo de Macedo, inaugura um curto episódio de uma tentativa de actualização de um museu desfasado da contemporaneidade.

Pedro Lapa