A despedida

, 1858

António José Patrício

Óleo sobre tela

81 × 64,5 cm
assinado e datado
Inv. 502
Historial
Pertenceu às colecções do rei D. Fernando II (1816 – 1885), adquirido em 1858, pouco antes da morte do artista. Adquirido pelo Estado no leilão do conde de Ameal, em 1921.

Exposições
Lisboa, 1898, 307, 10; Lisboa, 1921, 1295; Lisboa, 1950; A Criança nas colecções do Museu, 1979, 18; Paris, 1987, 90, cor e p.b.; Lisboa, 1988, 90, cor e p.b.; Lisboa, 1989, O Romantismo e a Pintura Portuguesa do século XIX, 1999, 50, cor; Caminha, 2001; Lisboa, 2005.

Bibliografia
LUCENA, 1943, 95; MACEDO, 1949, 15, p.b.; MACEDO, 1952, 12 – 13, p.b.; PAMPLONA, 1954, vol. III; Lisboa, 1961, LXXIII, p.b.; FRANÇA, 1967, vol. I, 270; SOARES, 1971, 412; Dicionário da Pintura Universal: Pintura Portuguesa, 1973, vol. 3, 305; FRANÇA e COSTA, 1988, 134, cor; FRANÇA , 1993, 352; Imagens da Família: Arte Portuguesa, 1994, 20, cor; Lisboa, 1994, 11, cor; PEREIRA, 1995, 332; As Belas-Artes do Romantismo em Portugal, 1999, 209, cor; O Romantismo e a Pintura Portuguesa do século XIX, 1999, 31.
Patrício associa-se ao grupo de pintores românticos e desenvolve um projecto sentimental, de dramaticidades simplistas. Nesta obra, de cariz cenográfico, próxima de uma cena engendrada em atelier fotográfico, três gerações sofrem, com mágoa, a partida de um familiar. A carga patética exprime-se nos gestos das personagens, nas referências paisagísticas. As ruínas da aldeia, ao longe e na penumbra, metáfora da “ruína” dos sentimentos provocada pela separação, estruturam o jogo dramático, que com o teatro popular se pode relacionar. Este evidencia-se na expressão meditativa, no olhar alongado da rapariga, no lenço com que a criança acena e no abandono doloroso da velha mulher, rosto na sombra, mão na testa e costas viradas à realidade da partida. O olhar do espectador é atraído para a riqueza de pormenores dos trajos populares femininos, diluindo-se, paradoxalmente, a dramaticidade do episódio.
Este sentido populista, muito divulgado na época, relaciona-se em Patrício com as suas origens de família operária. Com poucos recursos, limitado às fronteiras nacionais, por vezes com informações de estéticas estrangeiras através de álbuns, Patrício escolhe os caminhos mais adequados à sua restrita cultura, tentando integrar-se no gosto pelo registo da pintura de costumes populares. Saliente-se a escolha do tema que, pela primeira vez, revela na pintura a pesada realidade social da emigração, contraponto inerente às fragilidades do processo civilizacional e do período político marcado pela Regeneração que então se iniciava.

Maria Aires SIlveira