Sara
& André andam há mais de dez anos a elasticizar os limites da sua artisticidade, reconvertendo em cada projeto o reconhecimento ou, por
contraste, o dissentimento da sua condição. O que os move é, afinal, o
questionamento sistemático daquilo que, apesar do jogo de fronteiras e
negociações da nossa contemporaneidade, persiste em distinguir e classificar o
objeto enquanto obra de arte e o artista como um ser com atributos
aparentemente específicos.
Conhecendo
de um modo geral o campo teórico que insiste numa definição de arte (da
filosofia à sociologia), esta dupla exerce o seu fascínio pela assunção das armadilhas e dos alçapões autoconscientemente desenhados no sinuoso trajeto, mantendo um ombro a ombro com essa herança teórica e os seus momentos de aparição no domínio expositivo, isto é, na pragmática da apresentação pública
da obra de arte.
Conscientes dos “perigos” especulativos da sua ação crítica, Sara & André trabalham sobretudo em diálogo aberto com os códigos que fundam o meio artístico, e isso significa introduzir uma reinterpretação, a partir da
ampliação da noção de obra, em torno dos desvios e dos colapsos que enformam o
sujeito na sua relação com aquilo que identificamos, em primeiro lugar, como o
domínio da arte e o trabalho dos seus atores. O seu trabalho artístico realiza
assim uma espécie de apropriacionismo conscientemente parasitário que ajuda a
uma ascensão e reconhecimento junto do sistema artístico português. O seu
objetivo com esta estratégia declarada desde o primeiro momento é, justamente, desenharem o caminho mais direto para a fama, esse “claim to fame” que os acompanha desde há muito e que se transfigura a cada novo projeto.
A
exposição realizada por Sara & André no MNAC – MC partiu de uma outra forma
de citação e homenagem a Julião Sarmento, o artista português de maior
reconhecimento internacional, e hoje absolutamente consensual na receção
crítica e na análise historiográfica em Portugal. Ao promover uma
reinterpretação de algumas das fases mais decisivas da obra de Sarmento, a
dupla Sara & André recoloca, agora no plano institucional de um museu do
Estado, a premência do questionamento contemporâneo sobre a autoria e os
valores a ela associados. Ao citar a obra e a autoria de um artista
incontestado, eles correm o risco, calculado porém, de verem a sua própria
autoria quase esquecida, numa espécie de dilema de legitimação que sempre os
cativou. Entre a fama capturada do próprio prestígio de Julião Sarmento, e as
acusações fáceis de plágio ou falta de originalidade, Sara & André arriscam
nesta exposição uma leitura crítica que em muito se identifica com o jogo
associado à sua tarefa essencial, isto é, promover uma instabilidade produtiva
sobre as fronteiras e as características da singularidade autoral no contexto
das artes visuais contemporâneas.

Sara & André: Exercício de Estilo
© DGPC
Piso 1 e 2
entrada: Condições GeraisExercício de estilo
Sara & André
2014-09-26
2014-11-30
Curadoria: David Santos
Em Exibição
Face à “Vida Nua”
2020-12-09
2021-01-24
Curadoria: Emília Tavares
O MNAC apresenta uma exposição que congrega a obra de três artistas que se debruçam sobre o estado de exceção que vivemos.
Dilema de ser e parecer
o retrato na pintura, fotografia e escultura (1850-1916)
2020-11-18
2021-04-18
Curadoria: Maria de Aires Silveira, Emília Tavares
Esta exposição apresenta, pela primeira vez, um diálogo entre a pintura, a fotografia e escultura, na segunda metade do século XIX, a partir da coleção do MNAC e da coleção do Arquivo de Documentação Fotográfica da DGPC.
LOOPS.EXPANDED
2020-10-07
2021-02-14
O Programa LOOPS está de volta ao Museu Nacional de Arte Contemporânea, agora reformulado para LOOPS.EXPANDED
Dissonâncias
Coleção MNAC: Aquisições e Doações 2010-2020
2020-09-30
2021-02-07
Curadoria: Adelaide Ginga, Emília Tavares
A partir do próximo dia 30 de setembro, o MNAC apresenta uma seleção das obras mais recentes do acervo do MNAC, cuja entrada se deve a aquisições e doações efetuadas na última década.