entrada: Condições Gerais

O modernismo feliz: art déco em Portugal

2012-06-28
2012-11-25
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O Art Déco na escultura portuguesa

As lembranças de Rodin acrescidas da modernização expressionista de Bourdelle (Cabeça de Apolo, 1900-05) e do amaneiramento elegante das formas de Joseph Bernard, (Rapariga com bilha, 1912) peça icónica apresentada na Exposição de Paris de 1925, bem como do classicismo de Despiau, foram as fontes referenciais da escultura do 1º e 2º modernismos portugueses.
Francisco Franco demonstrou esta apropriação expressiva (Busto do pintor Manuel Jardim 1921; Rapariga francesa, 1923, Cabeça de rapariga, c. 1922) sobretudo no Torso de mulher, 1922, metáfora de mulher-árvore. Diogo de Macedo (Busto de mulher, c. de 1925, Busto de Mário Eloy, 1932) e Rui Roque Gameiro (busto de José Tagarro, 1927) seguiram a via de um naturalismo modernizado reforçado por Raul Xavier (Cabeça, 1938) por uma vertente neo–classicizante também ela modernizada. A vanguarda “Futurista” dos anos 1915-17 não se repercutiu na escultura, pelo que aquelas gramáticas formais, de teor Art Déco, foram vias de introdução e sobrevivência do modernismo escultórico português.

Lista de peças

Francisco Franco (1885-1955)

Torso de mulher

1922

Bronze

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1629-A

 

Joseph Bernard (1866-1931)

Rapariga com bilha

C. 1912

Bronze

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. C 779

 

Emile-Antoine Bourdelle (1861 – 1930)

Cabeça de Apolo

C. 1900-05

Bronze patinado e folha de ouro/patinated bronze and gold leaf

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 778

 

Francisco Franco (1885-1955)

Busto do pintor Manuel Jardim

1921

Bronze

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 573-A

 

Francisco Franco (1885-1955)

Rapariga francesa

1923

Bronze

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1701

 

Francisco Franco (1885-1955)

Cabeça de rapariga

c. 1921

Bronze

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 684

 

Diogo de Macedo (1889 – 1959)

Busto de mulher

1925

Bronze

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 992

 

Ruy Roque Gameiro (1906 – 1935)

Tagarro

1927

Bronze

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1020

 

Diogo de Macedo (1889 – 1959)

Busto de Mário Eloy

1932

Bronze

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1460-A

 

Raul Xavier (1864 – 1964)

Cabeça

1938

Pedra calcária

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 913


As Origens do Estilo Art Déco em Portugal: 1912-1925

Anunciado em Portugal pela I Exposição dos Humoristas Portugueses em 1912, particularmente por Almada Negreiros, o estilo Art Déco (cosmopolita, internacionalizado e marcado pela alegria de viver), assimilou referências do grafismo germânico e francês, num tímido anúncio de modernidade caracterizado pela estilização bidimensional, elegante e fundamentalmente decorativa que apenas Cristiano Cruz, detentor de uma visão desencantada do mundo, não praticou.

A notável vanguarda «Futurista» dos anos de 1915-17 (congregando o poeta Fernando Pessoa e os artistas Guilherme Santa-Rita, Amadeo de Souza-Cardoso, Eduardo Viana e Almada, entre outros), radical mas breve, deparou com a total hostilidade e incompreensão do meio provinciano – e o ímpeto Art Déco que lhe sucedeu, figurativo e frequentemente mundano, foi, doravante, decisivo para a sobrevivência e expansão do próprio Modernismo, contra as persistências do Naturalismo, exemplarmente demonstradas pela figura consensual de Malhoa.
O neo-cézanismo de Eduardo Viana, de Abel Manta e de Mário Eloy, nos seus começos, as lembranças Fauves de Milly Possoz e de António Soares, os desenhos elegantes e sintéticos de Almada, serviram uma temática de géneros tradicionais (retratos, naturezas-mortas, paisagens e cenas de género urbanas), numa miragem cosmopolita de modernidade (que a realidade política e económica contrariava) que se visava estender a todos os aspetos da vida quotidiana. O grafismo dos magazines dos Anos 20 ilustrou exemplarmente estas aspirações modernas, vividas nos clubes noturnos e consubstanciadas na imagem idealizada e estilizada da garçonne – registo a que até tardo-naturalistas modernizantes como Sousa Lopes foram sensíveis.
Na escultura, Despiau, Bourdelle e Joseph Bernard foram as referências modernas para Canto da Maya e Diogo de Macedo, que na sua obra L’ Adieu, 1920 atingiu o seu momento mais moderno, com lembranças da escultura grega arcaica. Leopoldo de Almeida deixou um naturalismo modernizado atento a arquétipos da pose e indumentária moderna (Figura de Franca Cristino da Silva, c. 1925; Figura do Arquitecto Carlos Ramos, c. 1925).

Lista de peças

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

O beijo

1912

Tinta da China e anilina sobre papel

Col. FCG-CAMJAP. Inv. DP223

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Five o’clock tea

1912

Tinta da China, aguada e aguarela sobre papel

Col. FCG-CAMJAP. Inv. DP204

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Sem título (Pintura decorativa – Alfaiataria Cunha)

1913

Óleo sobre tela

Col. FCG-CAMJAP. Inv. 83P55

 

Armando de Basto (1884 – 1923)

No meu atelier em Paris

1913

Óleo sobre tela

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1086

 

Cristiano Cruz (1892-1951)

Auto - retrato

1916

Guache sobre cartão

Col MNAC-Museu do Chiado. Inv. 2190

 

Cristiano Cruz (1892-1951)

Cena de guerra

1916-18

Guache sobre cartão

Col MNAC-Museu do Chiado. Inv. 2188

 

Eduardo Viana (1881 – 1967)

A revolta das bonecas

1916

Óleo sobre tela

Col MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1719

 

Eduardo Viana (1881 – 1967)

K4 Quadrado Azul

1916

Óleo sobre tela

Col. FCG-CAMJAP. Inv. 83P37

 

Amadeo Souza-Cardoso ( 1887- 1918)

Estudo de nu feminino

C. 1912

Lápis azul sobre papel

Col. particular em depósito no MNAC – Museu do Chiado

 

Amadeo Souza-Cardoso ( 1887- 1918)

Estudo de nu feminino

C. 1912

Carvão sobre papel

Col. particular em depósito no MNAC-Museu do Chiado

 

António Soares (1894 – 1976)

Desenho para publicidade e espectáculo no Teatro Apolo

c. 1919

Pastel e tinta-da-china sobre papel

Col. MNT. Inv. 176568

 

Eduardo Viana (1881 – 1967)

Bonecos populares

C. 1916

Óleo sobre tela

Col. particular

 

Eduardo Viana (1881 – 1967)

Rapaz das louças

1919

Óleo sobre tela

Col. particular

 

Milly Possoz (1888 – 1967)

Praia de pescadores – Cascais

1919

Guache sobre papel

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1257

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Sem título

1920

Tinta-da-china sobre papel

Col. FCG-CAMJAP. Inv. DP 217

 

Stuart Carvalhais (1887 – 1961)

Sem título

C. 1925

Tinta-da-china sobre cartão

Col. FCG-CAMJAP. Inv. 1035

 

Bernardo Marques (1898- 1962)

Sem título

1929

Guache sobre papel

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 2607

 

Diogo de Macedo (1889 – 1959)

Retrato de Francisco Franco

1924

Aguarela sobre papel

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. E.3.2631

 

Diogo de Macedo (1889 – 1959)

Nu

1923

Lápis e aguarela sobre papel

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. E.3.2719

 

António Soares (1894 – 1978)

Sem título

C. 1921

Pastel sobre papel

Col. FCG-CAMJAP. Inv. DP 909

 

António Soares (1894 – 1978)

Sem título

C. 1921

Tinta da China e guache sobre papel

Col. FCG-CAMJAP. Inv. DP 872

 

António Soares (1894 – 1978)

Sem título

1921

Grafite, tinta da China e aguarela sobre papel

Col. FCG-CAMJAP. Inv. DP 971

 

Jorge Barradas (1894 – 1971)

Sem título

1921

Tinta da China e guache sobre papel

Col. FCG-CAMJAP. Inv DP 994

 

Jorge Barradas (1894 – 1971)

Sem título

1920

Tinta da China e guache sobre papel

Col. FCG-CAMJAP. Inv DP 995

 

Jorge Barradas (1894 – 1971)

Sem título

1926

Aguarela, grafite e tinta da China sobre papel

Col. FCG-CAMJAP. Inv DP 999

 

Jorge Barradas (1894 – 1971)

Sem título

1927

Guache e grafite sobre cartão

Col. FCG-CAMJAP. Inv DP 977

 

Jorge Barradas (1894 – 1971)

Sem título

1927

Tinta da China, grafite, aguarela e aguada sobre cartão

Col. FCG-CAMJAP. Inv DP 996

 

Jorge Barradas (1894 – 1971)

Desenho de Almeida Cruz para publicação na revista ABC

1927

Guache e lápis sobre cartolina

Col. MNT. Inv. 160162

 

Jorge Barradas (1894 – 1971)

Sem título

1926

Óleo sobre cartão

Col. FCG-CAMJAP. Inv. 83P328

 

Eduardo Viana (1881 – 1967)

Palmeira

C. 1923

Óleo sobre tela

Col. particular

 

Adriano Sousa Lopes (1879 – 1944)

A blusa azul

C. 1925

Óleo sobre tela

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1266 (58)

 

Adriano Sousa Lopes (1879 – 1944

Retrato de Mme S. L.

C. 1927

Óleo sobre madeira

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1266 (54)

 

Abel Manta (1888-1982)

Auto-retrato

1925

Óleo sobre tela

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 2608

 

Ernesto Canto da Maya (1890 – 1981)

Vaso

1917

Terracota policromada

Col. MNAz. Inv. 354 CER

 

Diogo de Macedo (1889 – 1959)

L’Adieu

1920

Bronze

Col. FCG-CAMJAP. Inv. 82E439

 

Leopoldo de Almeida (1898 – 1975)

Figura de Franca Cristino da Silva

c. 1922-25

Bronze

Col. FCG-CAMJAP. Inv. 82 E495

 

António Soares (1894 – 1978)

No terrasse do Café des Plaires

C.1925

Óleo sobre tela

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 654

 

António Soares (1894 – 1978)

Composição

C. 1925

Guache sobre papel

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 653

 

Roberto Nobre (1903 – 19299)

Sem título

1925

Grafite sobre papel

Col. FCG-CAMJAP. Inv. DP 1026

 

Mário Eloy (1900 – 1951)

O arquitecto José Pacheco

1925

Óleo s/ tela

Col. FCG-CAMJAP. Inv. 83P202

A miragem da Exposição de Paris de 1925: obras e autores dos Anos 20

A decoração do café A Brasileira do Chiado (1925), iniciativa de José Pacheko que não agradou a ninguém, e do cabaret Bristol Club (1925-26) congregou os melhores pintores e escultores modernistas (Almada Negreiros, Eduardo Viana, António Soares, Canto da Maya, entre outros), convertendo estes dois espaços nas mais completas galerias de Arte Moderna portuguesa, em oposição ao moroso Naturalismo oitocentista, predominante nas instâncias do gosto oficial, consubstanciado no feudo conservador da Sociedade Nacional de Belas-Artes e no próprio Museu Nacional de Arte Contemporânea.
A alegria de viver, caracteristicamente Art Déco, foi denominador comum daquelas iniciativas plásticas modernas, marcadas pela extrema desenvoltura da estilização linear e discreto expressionismo de Almada, pelo sensualismo extremado, Fauve e neo-cézanniano, de Eduardo Viana, pela elegância mundana de Soares e de Lino António, na pintura, e pela requintada estilização eminentemente gráfica de Canto da Maya, na escultura.
Outros artistas como Sarah Afonso, Abel Manta e Dordio Gomes pintaram cenas de intimismo familiar e paisagem, também sob uma gramática de cores puras, de lembrança Fauve ou de estilização geometrizante e néo-cézanniana das formas e volumes.

Lista de peças

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Sem título

C. 1923

Grafite sobre papel

Col. FCG-CAMJAP. Inv. DP221

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Auto-retrato num grupo (Pintura decorativa – Café A Brasileira do Chiado)

1925

Óleo sobre tela

Col. FCG-CAMJAP. Inv. 83P57

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

As banhistas (Pintura decorativa – Café A Brasileira do Chiado)

1925

Óleo sobre tela

Col. FCG-CAMJAP. Inv. 83P58

 

Ernesto Canto da Maya (1890 – 1981)

Tragedie

1926

Bronze patinado

Col. FCG-CAMJAP. Inv. 81E437

 

Ernesto Canto da Maya (1890 – 1981)

Commédie (Femme au masque)

1926

Bronze patinado

Col. FCG-CAMJAP. Inv. 81E438

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Nu (Pintura para o Bristol Club)

1926

Óleo sobre tela

Col. FCG-CAMJAP. Inv. 83P59

 

António Soares (1894 – 1978)

Quarta - feira de cinzas

C. 1925

Óleo sobre tela

Col. Particular

 

Eduardo Viana (1881 – 1967)

Nu (Pintura para o Bristol Club)

1925

Óleo sobre tela

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 885

 

Eduardo Viana (1881 – 1967)

Nu (Pintura para o Bristol Club)

1925

Óleo sobre tela

Col. FCG-CAMJAP. Inv. 83P41

 

Lino António (1914 – 1974)

Sem título (Bristol Club)

1926

Óleo sobre tela

Col. FCG-CAMJAP. Inv. 83P71

 

António Soares (1894 – 1976)

Camarim das Girls

c. 1925

Guache sobre cartão

Col. FCG-CAMJAP. Inv. DP868

 

Sarah Afonso (1899 – 1983)

Meninas

1928

Têmpera sobre tela

Col. MNAC-Museu do Chiado, Inv. 1525

 

António Soares (1894 – 1976)

Maquete de cenário A boneca e os fantoches/ Cª Rey Colaço Robles Monteiro/ T. Nacional Almeida Garrett

1930

Pastel e tinta-da-china sobre papel

Col. MNT. Inv. 34285

 

Abel Manta (1888-1982)

Jogo de damas

1927

Óleo sobre tela

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 650

 

Dordio Gomes (1890 – 1976)

Éguas de manada

1929

Óleo sobre tela

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1643

 

Ernesto Canto da Maya (1890 – 1981)

A dança

C. 1925 – 30

Barro

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 2304

 

Ernesto Canto da Maya (1890 – 1981)

Flora

C. 1922

Barro

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 2305

 

Maria Adelaide de Lima Cruz (1908 – 1985)

Figurino da revista A cigarra e a formiga/ Cª Hortense Luz/ T. da Trindade

1930

Aguarela sobre papel

Col. MNT. Inv. 67016

 

 

Art Déco e Novo Classicismo

Com Adão e Eva, de 1929, o artista Canto da Maya assina a melhor escultura Art Déco portuguesa, numa gramática que estendeu a outras terracotas, como o grupo A Família 1927, depois oficialmente apropriado pelo Estado Novo na representação portuguesa enviada à Exposição Universal de Nova Iorque de 1939.
Se José Tagarro realizou um desenho virtuoso de pendor neo-classicizante modernizado nos seus retratos, anunciando percursos do Modernismo português dos Anos 30, já Mário Eloy foi intérprete de uma pintura de grande qualidade que, apesar do teor original e eminentemente expressionista, não descurou uma elegante estilização Fauve, aliada a lembranças decorativas de índole cubista, como no Retrato do Bailarino Francis, 1930 procedendo igualmente à revisão do novo classicismo picassiano e das sugestões advindas da arte africana no seu icónico Auto-retrato, espécie de máscara onde articula volumes geométricos.

 

Lista de peças

José Tagarro (1902-1931)

Retrato de D. Ana Sotto-Mayor de Macedo

1930

Grafite sobre papel

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1255

 

José Tagarro (1902-1931)

Retrato de D. Raquel Bastos Osório de Oliveira

1929

Lápis sobre papel

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 990

 

Ernesto Canto da Maya (1890-1981)

Adão e Eva

1929-1939

Terracota policromada

Col. MNAC- Museu do Chiado. Inv. 918

 

Ernesto Canto da Maya (1890-1981)

Família

1927

Terracota

Col. MNAC- Museu do Chiado. Inv. E.3.2673

 

Ernesto Canto da Maya (1890 – 1981)

Canto da Ilusão

C. 1929

Terracota policromada

Col. MNAz. Inv. 394 CER

 

Ernesto Canto da Maya (1890 – 1981)

Pomona

C. 1926

Cerâmica

Col. MNAz. Inv. 352 CER

 

Mário Eloy (1900 – 1951)

Auto-retrato

C. 1928

Óleo sobre tela

Col. MNAC- Museu do Chiado. Inv. 1087

 

Mário Eloy (1900 – 1951)

Retrato do bailarino Francis

1930

Óleo sobre tela

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1470

 

 

O Segundo Modernismo, o Novo Classicismo e o Estado Novo

O Novo Classicismo, de raiz picassiana estilizada, marca o desenho de grande qualidade que Almada Negreiros praticou ao longo dos Anos 30, por vezes acrescido de delicados sombreados que estabelecem subtis transições luminosas ou de deformações amaneiradas das formas, como sucede em A sesta, 1939 obra de contido erotismo.
Sarah Afonso, mulher do artista, seguiu igualmente, nesta década, este novo classicismo modernizado, estilizado e sintético, como evidencia o seu Auto-retrato, c.1930.
O Novo Classicismo foi, aliás, marca do estilo Art Déco internacionalizado ao longo desta década, e obteve vasta repercussão em Portugal: António Soares evidenciou-o com elegante cunho mundano no seu exemplar Retrato da Irmã do Artista, 1936 em cujo fundo avultam discretas lembranças cubistas fragmentadas.
Carlos Botelho constitui uma exceção neste universo, revificando o exemplo expressivo de Van Gogh, sob uma ótica de idêntica estilização elegante, no Retrato de Berta Mendes, 1932, retomado por Abel Manta sob um naturalismo cézanniano, enquanto Jorge Barradas procurou renovar a arte religiosa sob uma ótica decorativa na sua Anunciação, 1936, estilizando livremente o exemplo igualmente oitocentista dos Nabis, ou renovando a cerâmica sob temáticas identitárias e populares, à luz de um figurino vienense (Cabeça de Peixeira, 1938).
A escultura manifestou com maior evidência a estilização de índole Neo-Clássica, como o demonstra a obra de Ruy Gameiro, artista de breve vida e carreira, ou mais exemplarmente, sob cunho oficializado na Exposição do Mundo Português de 1940, a severa escultura A Soberania 1940 de Leopoldo de Almeida, lembrada da arte nazi, ou, sobretudo, o icónico Padrão dos Descobrimentos 1940 de Cottinelli Telmo e Leopoldo (apenas passado à pedra em 1960), onde o grafismo tridimensionalizado se alia à estilização nuno-gonçalvesca, oficialmente adotada pela estatuária do Estado Novo.

Lista de peças

 

 

António Soares (1894-1978)

A agricultura, o comércio, as indústrias

c. 1933

Óleo sobre tela

Col. MAR. Inv. MAR 279

 

Sarah Afonso (1899 – 1983)

Auto-retrato

c. 1930

Tinta-da-china sobre papel

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 2338

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Figuras de circo

1933

Lápis de cera sobre papel

Col. particular

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Bailarina descansando de pé

1934

Lápis sobre papel

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 987

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

A sesta

1939

Carvão sobre papel

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 986

 

Jorge Barradas (1894 – 1971)

Anunciação

1936

Óleo sobre tela

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. MNAC-MC 850

 

Jorge Barradas (1894 – 1971)

Cabeça de peixeira

1938

Barro cozido pintado

Col. FCG-CAMJAP. Inv. CP5

 

Ruy Roque Gameiro (1906 – 1935)

Estudo

1927

Gesso patinado

Col. MJM. Inv. 74

 

Ruy Roque Gameiro (1906 – 1935)

Estudo

1927

Gesso patinado

Col. MJM. Inv.73

 

Carlos Botelho (1899-1982)

Retrato de Berta Mendes

1932

Óleo sobre platex

Col. MNAC-Museu do Chiado, Inv. MC E.3.2625

 

Abel Manta (1888-1982)

Retrato de Berta Mendes

1934

Óleo sobre tela

Col. MNAC-Museu do Chiado, Inv. MC E.3.2660

 

António Soares (1894-1978)

Retrato da irmã do artista

1936

Óleo sobre tela

Col. MNAC-Museu do Chiado, Inv 847

 

Cottinelli Telmo (1897-1948)

Leopoldo de Almeida (1898 – 1975)

Padrão dos Descobrimentos (maqueta)

C. 1940

Gesso patinado

Col. Museu da Cidade, CML. Inv. MC.MAQ.002

 

Leopoldo de Almeida (1898 – 1975)

Soberania (maqueta)

1940

Gesso patinado

Col. Museu da Cidade, CML. Inv. MC. ESC. 0247

 

 

Dos Anos 40 à longa vigência do estilo Art Déco em Portugal

O isolamento e longa duração do regime salazarista, bem como a longa vida de muitos artistas vindos do primeiro e do segundo Modernismos, como Almada Negreiros, Eduardo Viana ou António Soares, possibilitaram a longa vigência do estilo Art Déco em Portugal permitindo, porém, a própria sobrevivência do Modernismo num meio fundamentalmente conservador.
Almada, nos Anos 40, desenvolveu com grande vivacidade e agilidade gráfica a sua raiz picassiana, repartindo-a por figuras vindas daquela mitologia como acrobatas e Pierrots, mas também varinas ou figuras em interiores acrescidos de pesquisas lumínicas.
Enquanto Viana recuperou as suas lembranças Fauves e cézannianas, que jamais abandonaria, António Soares revisitou o seu universo mundano dos Anos 20 (Pierrot, 1944) ou acentuou o classicismo das suas composições (Senhora da Rosa, 1942).
O Novo Classicismo foi também fonte de inspiração para os artistas do terceiro Modernismo, como Martins Correia, ou até dos neorrealistas, como Vasco da Conceição ou Maria Barreira, esta dulcificando lembranças de Barlach, enquanto até o abstracionista Nadir Afonso se aproximou do grafismo dos Anos 10-20, numa obra dos seus começos – embora, desde os Anos 40, tanto os abstracionistas como os neorrealistas desenvolvessem a sua obra sob outros propósitos de pesquisa plástica ou ideológica que, definitivamente, arredariam o estilo Art Déco.
A incompreensão do meio face à inovação radical das propostas surrealistas de António Pedro, desde os anos 30, e dos grupos surrealistas dos anos 40-50, bem como às propostas abstracionistas de Lanhas ou Joaquim Rodrigo, a hostilidade oficial face ao neorrealismo coevo, foram condições para que o Art Déco, modernismo feliz e apaziguado, sobrevivesse até cerca de 1960.

Lista de peças

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Sem título (Acrobatas)

c. 1947

Grafite e guache sobre papel

Col. particular

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Varina

1946

Lápis sobre papel

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1482

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Acrobatas

1947

Guache sobre papel

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1483

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Par

C. 1958

Grafite sobre papel colado em cartão

Col. particular

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Cabeça de Arlequim

C. 1947

Grafite sobre papel

Col. particular

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Sem título (Figura feminina lendo um livro)

C. 1948

Tinta da China sobre papel

Col. particular

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Estudo para os esgrafitos do Hotel Ritz

C. 1958

Lápis de cor e tinta da China sobre papel

Col. Particular

 

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

Estudo para os esgrafitos do Hotel Ritz

C. 1958

Tinta da China e grafite sobre papel

Col. Particular

 

Jorge Barradas (1894 – 1971)

Senhora

1945

Cerâmica

Col. MNAz. Inv 41 CER

 

Jorge Barradas (1894 – 1971)

Chapelinho amarelo

1945

Cerâmica

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1213

 

Jorge Barradas (1894 – 1971)

Estatueta

C. 1950

Cerâmica

Col. MNAz. Inv. 10 Cer

 

António Soares (1894-1978)

Senhora da Rosa

1945

Óleo sobre tela

Col. Dr. Américo Miranda Soares

 

António Soares (1894-1978)

Pierrot

1944

Óleo s/tela

Doação António Lopes Ribeiro

Col. F.A.L. Museu do Caramulo. Inv. 276

 

Joaquim Martins Correia (1910 -1999)

Busto de rapariga

1943

Mármore policromado

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1073

 

Eduardo Viana (1881 – 1967)

Paisagem de Sintra

1956

Óleo sobre madeira

CAMB - CMO, Inv. 28

 

Vasco Pereira da Conceição (1914-1992)

Banhista

1952

Grés

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1537

 

Maria Barreira Gonçalves (1914 – 2010)

Repúdio

1957

Bronze / bronze

Col. MNAC-Museu do Chiado. Inv. 1712

 

Roberto Araújo (1908-1969)

Figura alegórica: Providência

C. 1945 – 50

Guache sobre cartão

Col. MJM. Inv. 225

 

Pinto de Campos (1908- 1975)

Maquete de cenário de revista Pernas à vela/ Cª Eugénio Salvador/ Teatro Variedades

1958

Guache sobre cartão

Col. MNT. Inv. 11445

 

Pinto de Campos (1908- 1975)

Figurino da revista Pernas à vela/ Cª Eugénio Salvador/ Teatro Variedades

1958

Guache sobre cartolina

Col. MNT. Inv. 66034

 

Pinto de Campos (1908- 1975)

Maquete de cenário de revista Chá-Chá-Chá/ Cª Eugénio Salvador/ Teatro Maria Vitória

1960

Guache sobre cartolina

Col. MNT. Inv. 11159