MNAC

entrada: Condições Gerais

The Four Chambered Heart

Filipa César

2011-09-09
2011-10-09

“The heart has four chambers”. A frase do filme de Jean Rouch, La Pyramide Humaine (1959), é devolvida ao espectador por um dos intervenientes no vídeo de Filipa César. O sentido anatómico da citação confunde-se, aqui, com uma outra anatomia, que caracteriza o processo de trabalho da artista, ao desmontar La Pyramide Humaine dissecando as suas questões fundamentais, o método, os actores e o ponto de partida: provocar e registar um diálogo entre dois grupos de jovens de comunidades distintas. Durante uma residência artística em Israel, em 2007, Filipa César recria e recontextualiza essa situação inicial, ao reunir estudantes de cinema israelitas (árabes e hebreus) para verem e discutirem o filme de Rouch.

A pergunta “O que é cinema?”, colocada por um dos personagens de Le Passeur (2008), constituiu também um tema central em The Four Chambered Heart e atravessa todo o debate entre os estudantes, que questionam as fronteiras entre ficção e documentário, realidade e manipulação. A discussão rapidamente ultrapassa o filme de Rouch, abrangendo as tensões sociais, culturais e raciais entre Israel e a Palestina e a relação entre a Europa e o Médio Oriente. No final, os alunos/actores acabam por conduzir a conversa até ao filme em que participam, interrogando-se sobre o sentido do projecto de Filipa César e, ao faze-lo, devolvem as questões de partida à artista e ao espectador que, nesse processo de expansão e transferência, se torna parte do próprio filme.

Obra essencial no percurso de Filipa César, The Four Chambered Heart (2009) investiga a estrutura da criação cinematográfica e revela de forma eloquente a subjectividade da interpretação individual, a partir de uma experiência comum.

Na montagem desta obra na Sala Polivalente do MNAC – Museu do Chiado integra-se também a série de três fotografias La Pyramide Humaine (2009). A exposição de Filipa César assinala o recente depósito do núcleo de fotografia e vídeo da Colecção António Cachola, que veio ampliar e actualizar significativamente o acervo do Museu, incluindo artistas de referência no panorama da arte portuguesa da última década que, até agora, não se encontravam representados.