Alguns artistas desta geração romântica captaram o imaginário popular português e inventariaram quotidianos regionais de vivências e costumes, a que se liga uma religiosidade pontuada de romarias e procissões. Almeida Garrett apelara ao registo dos costumes nacionais, em 1844, e os artistas, nas suas incursões pelo país, fixaram os modos de ser populares com o objectivo de traçar identidades nacionais a partir das especificidades regionais. Estas pinturas revelam um rigor de observação e um cuidado no inventário de tradições e sociablidades, actualmente inexistentes, substituindo a invenção do pictural pelo pitoresco e a documentação das práticas populares.
Também na literatura se assiste a uma mudança de gosto e a uma preferência pelo romance novelístico, sublinhando a importância dos pormenores descritivos dos aspectos rurais do país, comum ainda às preocupações dos primeiros antropólogos, desde 1870, tanto de Teófilo de Braga, como de Consiglieri Pedroso e Leite de Vasconcelos, na pesquisa e recolha das tradições populares e literatura tradicional.
Leonel, autor de um vasto e apreciado conjunto de obras, integra esta nova atitude através desta recolha visual, diligentemente documental, reveladora de um grande rigor de desenhador que a sua profissão exigia. A simplicidade do motivo captado combina com a aplicação de coloridos primários e intensos nas figuras, nos trajes característicos de cada região, indicadores do seu estatuto social, com a naturalidade dos passos de dança específicos e com uma sentimental piedade, em cenas explícitas dos modos de sentir do povo e das burguesias.

Maria Aires SIlveira